segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Leituras Dramáticas










Urubus no viaduto e Maria Caboré de Ronaldo Correia de Brito
20 de Novembro primeiro dia de encontro, conhecendo os textos.
Urubus no viaduto leitura simples, forte que me tocou profundamente de encher os olhos de lagrimas e uma vontade de ler em voz alta. Morte, demônios, anjos, doenças, força, miséria, solidão, memorias... 
"Sete nos na camisa e  pai nosso rezado de traz pra frente".  Foi de arrepiar a espinha fiquei com essa fala na cabeça por dias.
Segundo encontro dia 21 as 21h;  trabalhar o desapego .
Tive que trabalhar o desapego com o texto "Urubus no viaduto" rapidamente durante a divisão na leitura.
O impacto de uma primeira leitura nunca se repete. E na segunda, já aprece outras intenções e novos arrepios, mas continuo sentido toda a força e guardando aqui dentro todas essas sensações.
                                                                                                                                                                         



Flores de papel crepom
Maria Caboré

Quando se deu fé, Maria estava doida, ou sempre fora, com as lembranças de corpos negros dançando em volta de uma fogueira, com o sonhos da travessia de um mar. Agora, entrava na simplicidade das pedras do rio, onde sentava para enxugar-se do banho. Misturava-se ao lixo das ruas e a cor da roupa ficava da mesma tonalidade do seu corpo."




Com: Samia Oliveira, Faeina Jorge, Maria da Guia, Joel, Roberto Viana

 Direção: Edceu Barboza






                                                                                                                                              Faeina Jorge







Leitura Dramática
2011  

Na solidão dos campos de algodão
( Teatro de Bernad-Marie)
             Koltès



Alana Moraes e Adriano Brito
                        



















Com: Alana Moraes, Arlet Almeida, Adriano Brito, Faeina Jorge e Roberto Viana 
Direção: Edceu Barboza 

sábado, 17 de novembro de 2012

De 2010 pra cá...

















                Surge o primeiro espetáculo que da nome ao grupo Armadilhas. 
Em cena: Adriano Brito, Roberto Viana, Vânia,  Arlet Almeida, Carta Prata, Faeina Jorge e Fernanda.







Direção: Edceu Barboza
Arlet Almeida , Roberto Viana e Carla Prata




"Terreiro de Historias"   


      

Terreiro de Historias é o segundo trabalho do Armadilhas Cênicas espetáculo conta a historia de três viajantes que saem pelo mundo com suas malas contando suas aventuras e diversas historias.

Em cena : Roberto Viana, José Filho, Faeina Jorge e Edceu Barbosa
Direção Edceu Barboza 

  






Roberto Viana, Faeina Jorge e Edceu Barboza
Direção: Edceu Barboza

Faeina Jorge











                                     "Itinerário"  

Em cena: Faeina Jorge, Roberto Viana, Alana Moraes, Adriano Brito, Arlet Almeida
e Vânia


















  Um espetáculo nostálgico que fala sobre solidão.  Que mistura memorias dos próprios atores com textos de Caio Fernando Abreu .


Em cena: Faeina Jorge e Alana Moraes
Direção: Edceu Barboza










Esquete:"Sinal fechado poderia ter sido diferente"





- Olá! Como vai?
- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E
você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
Faeina Jorge e Alana Moraes
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é… Quanto tempo!
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor, telefone! Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente…
- Pra semana…
- O sinal…
- Eu procuro você…
- Vai abrir, vai abrir…
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço…
- Por favor, não esqueça, não esqueça…
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!
(Chico Buarque)                              
                                                                               
 Em cena : Alana Moraes, Roberto Viana, Adriano Brito
e Faeina Jorge              

 









           Em busca da terceira margem   





    


Inspirado no conto "A terceira margem do rio" de Guimarões Rosa










Arlet Almeida, Faeina Jorge, José Filho, Roberto Viana,
Alana Moraes e Adriano Brito







Em cena: Faeina Jorge, José Filho, Alana Moraes,Adriano Brito, Arlet Almeida e Roberto Viana 
Direção Edceu Barboza



                                  Mãe numa ilha deserta


Edceu Barbosa convida Maria da Guia e Joel Rodrigues para o  experimento de conclusão na disciplina de encenação na faculdade de teatro. E a partir dai surge o espetáculo Mãe Numa Ilha deserta .

Inspirado no conto homônimo de Ronaldo Correia de Brito

Colaboração: Luiz Renato

Direção: Edceu Barboza
Operação de som: Sâmia OliveiraIndicação 12 anos. 40 min.








Sinopse:
Heleonora não ama mais Edmundo. O mundo então perde o sentido para este jovem que convence sua mãe a ir trabalhar numa ilha acendendo o farol que dar norte aos navios/vidas em alto mar... Mergulhado em dor mãe e filho se isolam numa ilha, passando seus dias embalados pelas melodias que a mãe rascunha dedilhando um pequeno acordeom... Entardecer, nenhum navio de abastecimento... lembranças de Heleonora...Ilha, Mar, solidão, mãe, Acordeom!



Meu diário de bordo ( Memorias de uma cidade perdida) X ( Armadilhas Cênicas) Faeina Jorge


Sou toda Armadilhas Cênicas
 1 de novembro 2012

Nas quintas  das  17h as 19h  sou toda Armadilhas,  e no encontro de hoje resolvemos fazer um passadão de todas as imagens que já construímos para o trabalho, Memorias de uma cidade perdida. Com o auxilio de Edceu fizemos um alongamento e um aquecimento corporal  já entrando na atmosfera do trabalho em seguida começamos a passagem das cenas e quadros, todos nos estávamos muito concentrados, em alguns momentos nos emocionamos .  Vimos que já temos bastante material e vamos ate precisar fazer uma pequena seleção de cenas. Hoje seria o dia que Rita Cidade iria nos assistir pra fazer a dramaturgia,  mas infelizmente por motivo de doença ela não pode comparecer.









Depois de minha pausa no processo de Memorias de uma cidade perdida, volto com muita sede ao trabalho  e percebo que me sinto mais  dentro do processo que antes. E hoje durante o trabalho de corpo, Edceu pediu que a gente se questionasse sobre o nosso fazer artístico.
O meu fazer artístico é como uma grande montanha, cheia de desvios, pedras, obstáculos...
Mas  todos esses obstáculos são muito prazerosos e são eles que indicam o caminho.
Costumo dizer que tenho um mundo dentro de mim porque tenho infinitos sonhos e objetivos.
Cada trabalho que faço tento buscar a força necessária  dentro de mim e sempre de uma forma diferenciada da outra. E por acreditar e respeitas minha arte é natural colher os frutos. Faço teatro a 12 anos e a  primeira vitoria foi o respeito de minha família com meu trabalho,  eu vi um fim de um preconceito. Com o meu amadurecimento em algumas partes  percebi o olhar alheio mudando também, e como disse que tenho um mundo dentro de mim sei que a jornada ainda é bem longa.
Que espece de artista eu sou...? 
Bem... sou uma artista que busca, se estou certa ou errada não sei, talvez só la na frente saberei, mas vivo, sugo o presente e mergulho sempre o mais fundo que posso!


                                                                                                                             Faeina Jorge









2013
Narradores de Javé, um filme sobre memoria, História e exclusão



Na coleta do primeiro relato "javélico", Biá diz à sua "fonte": "uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito". Esse pequeno conjunto de elementos já é suficiente para apontar a isenção e a imparcialidade impossíveis à História e ao historiador. O filme se desenrola com a difícil tarefa para Biá: reunir uma história a partir de cinco versões diferentes - uma multiplicidade de fragmentos, memórias incompatíveis entre si. O personagem se vê entre essa impossibilidade e um futuro/progresso destruidor e irremediável.




Em seguida conversa e reunião  pra definir e organizar a dramaturgia, chegamos a conclusão de que temos muito material  .
Um espetáculo que não precisa de aplausos (ideia do diretor) ...apesar de compreender a temática  tenho que me acostumar com essa ideia já que pra mim os aplausos do publico é o termômetro e a recompensa de tanta entrega naquele trabalho. Em todos esses anos de trabalho  sempre imaginei se algum dia não houvesse aplausos, eu com certeza iria sair frustrada e deprimida!   Confesso que vai ser bem estranho mas o bom de nosso trabalho é isso sempre experimentar novas possibilidades.


Sou uma pessoa que gosto da simplicidade, da leveza de momentos simples e ate mesmos de palavras fáceis,  só acho que não precisa de grandes arrodeios para explicar algo. Mas não significa que não entenda temas complexo. Só acho que tudo pode ser mais simples só isso. Sem perca de tempo!




7 de Abril domingo

No dia 11 de março foi nosso ultimo encontro,  fizemos um trabalho muito bom e diferente, baseado no Teatro da Vertigem, cada um de nos tinha que sair pelas ruas e executar quatro ações que o outro colega de trabalho escolhia. As minhas eram: sempre que ver um idoso conversar com ele, perguntar o nome de uma criança sempre que encontrar uma, quando ver um banco sentar e cruzar as pernas e quando ver um carro grande dar um giro. E assim foi, quando sai pensei logo: Meu Deus como vou puxar assunto com alguém que não conheço, morro de vergonha! Mas depois do primeiro foi super fácil, o melhor momento foi quando ajudei uma senhora que carregava muitas sacolas  tinha ate na cabeça, foi um presente ver o sorriso dela estava bem pesado mesmo. E o maior problema foi justamente o que eu achava que seria o mais simples, que era perguntar o nome das crianças que encontrava, passei por varias e não tive coragem porque vi que elas estavam acompanhadas dos pais e fiquei preocupada com o que eles iriam pensar em ver uma desconhecida querendo saber o nome de seu filho. E ate mesmo quando elas estavam sozinhas e eu dirigia a palavra  e percebia um olhar super espantado tipo: ( Ai meu Deus quem é essa !!! ) ou ( Eita sera se ela viu o que fiz!!!)
Mas foi uma ótima experiência, perceber a cidade diferente, ver realmente  seu ritmo e enxergar as pessoa foi o mais gratificante, talvez eu já tivesse passado por algum daqueles idosos e não tivesse visto ou talvez percebido que eles precisavam de algum tipo de ajuda...ou não.
Já na sala de ensaio percebi o corpo cansado ficamos das 15h ate as 17h na rua, o sol estava bastante forte, confesso que em 20minutos retornei achando que já tivesse passado uns 40min. ai voltei e fique bastante tempo e detalhe, não podíamos perguntar a hora.

No ultimo momento foi apresentado as propostas de figurino que vão ser inspiradas ate então no clássico E o vento levou de 1939 ...

Acho que se o processo é colaborativo não é para existir resistência a novas propostas ou ideias apenas experimentar mas acho que esta tendo um probleminha pessoal ali, de personalidade. Mas tudo bem é  uma questão de maturidade, resistência de autoconhecimento mesmo  que no meu caso não sei se estou  nesse momento de esperar que tudo isso aconteça da outra parte. Teatro pra mim alem de tudo  é troca e cumplicidade e respeito. Se eu não sentir nada disso então tudo perde o sentido.



8 de Abril segunda feira

Em vez de memorias... passagens das historias já que os demais não poderiam comparecer hoje e sexta viajaremos pra Sousa/PB apresentar terreiro. O ensaio era para observar o outro e fazer anotações de algo que falta ou perdemos. O estranho foi passar minha historia e perceber que o diretos fez considerações equivocadas porque não levantou a vista um segundo se quer pra ver meus movimento.



Quinta 11 de Abril 2013

Memorias de uma cidade perdida 


Fotos de minha cidade  em 1935
Crato











Feira da rapadura em Crato




Antigo Cinema do Crato




Agosto, retornando aos trabalhos, sera?!!!
Bom o mês já esta acabando e só me recordo de 3 encontros que me deixaram pensativa, preocupada e sem entusiasmo. O primeiro encontro fizemos no Centro Cultural, quando cheguei pensei que o texto já estaria pronto mas infelizmente Rita ainda não tinha concluído. Mas tudo bem pensei ,vamos trabalhar e relembrar tudo, marcas e trazer a tonas as emoções que criamos ... 
Esse encontro eu chamo de encontro frustrado, não sei se pra todos mas pra mim ele me deixou muito preocupada, pois relembrar marcas é o mais simples temos filmagens fotos e memoria. Eu simplesmente não consegui trazer nenhum daqueles sentimentos e emoções. Senti falta de um trabalho que acho que o diretor deveria nos ajudar nisso . Acho que a forma que esta sendo conduzida o alongamento e o aquecimento me distancia do trabalho. Poderia sim   fazer todas aquela coisas o alongamento livre, o homem bombam mas depois direcioná-lo como era feito antigamente.
O segundo encontro me deixou desmotivada .
Quando chegamos na casa Ninho colocamos logo nossas roupas de ensaio  e começamos um alongamento por conta própria, Edceu em seguida  assume o alongamento, e não conclui e já queria passar pro aquecimento que requer muito esforço físico,  questionamos e terminamos pro conta própria. Depois ele parte pra o aquecimento do homem bomba, meu corpo estava exausto cansado mas tentei fazer o melhor possível . Quando acabamos o treinamento de energia  sentamos em circulo e fomos ler o o texto que ainda não estava finalizado . Isso me deixou extremamente irritada me senti como bonequinha de direto que ele manda a gente fazer o que vem na cabeça dele . Depois em outro momento questionei o porque dele ter feito isso pra ler um texto, no caso seria melhor fazer um aquecimento de voz . Ele disse que era pra não perdemos o ritmo ! Não acreditei   quando ouvi!  Porque se era pra mantermos um ritmo de trabalho deveríamos nos encontra com frequência . 
Trabalho colaborativo é muito difícil tanto pra atores e vejo que para o diretor tambem, se ele estiver se percebendo claro. No meu caso estou com muitos questionamentos, com o tempo de trabalho que ja realizamos, com o que ganhamos, o que esta perdido ou esta  adormecido, com a forma que Edceu esta conduzindo de uns tempos pra cá, sinto necessidade de mais direcionamento.  Mas ainda consigo visualizar o espetáculo  ainda acredito, tenho esperança de que quando o texto ficar pronto as coisas tomem outro rumo.
E o terceiro encontro eu não compareci seria uma leitura de mesa do texto no BNB sem o diretor mas como eu ia viajar no mesmo dia estava muito atarefada e acabei esquecendo do combinado!

Setembro, dia 25 quarta feira 21h:30min.

Marcamos um novo calendário de encontros esse é o horário alternativo, todos presentes com exceção de Beto ele é o único que não pode nesse horário infelizmente . 
 Gosto desse horário apesar do cansaço, só acho que não da pra perdemos tempo com brincadeiras.   Todos exaustos mas presentes e com vontade de trabalhar. De inicio conversamos um pouco e coloquei minhas impressões dos últimos encontros e usei as mesma palavras que descrevi aqui no blog, não entendo porque quando discordo os outros se calam, poderiam dizer que eu estava errada ou não sei lá... Mas por fim vi o desconforto e espero que as coisa tomem outro rumo e acredito que a partir de agora o ritmo sera outro mesmo porque agora o trabalho tem data para estrear e não podemos fugir pois sera a avaliação final da disciplina de  Encenação III da faculdade. 
 Hoje fizemos uma leitura do texto Rita apresentou mais uma parte que achei muito boa gostei da poesia que ela coloca com simplicidade e do ritmo na cena que gosto muito! E que venham os próximos encontro. 
Em relação ao trabalho de sentimento e memorias acredito que com o texto e depois do que falei as coisas tambem volte a ter o mesmo ritmo! E Avante!!!!

Nessa sexta dia 27 logo apos do nosso encontro  fui ver o espetáculo Evanescente Caminho que também é resultado de  um processo colaborativo e no final teve um bate papo e percebi que todas essas dificuldades e atropelos fazem partes de processos assim. E no mais é ter paciência e foco que da tudo certo. 

terça-feira, 20 de março de 2012

Artista/Ator/Criação

Ser artista é fazer um mergulho na alma, no mais intimo de nós, é antever, ver antecipado. Sentir antes... É saborear as coisas cotidianas de um jeito diferente, como se nossos olhos captassem algo a mais que os outros seres. 

A angustia na criação é uma constante, tudo vira foco... Por isso a importância de se livrar de todos os obstáculos que possam aparecer. Seguir com a certeza interior que tudo tem um sentido e que é preciso dar vida para gerar outra (s) vida (s)... 

O teatro precisa de seus fazedores completamente entregues ao oficio. Sem medos, sem limite(s) na(s) crença(s) e na(s) entrega(s). Confiar no outro é fundamental, do contrario os "buracos negros" passam a ter mais foco do que a criação em si... 

Qualquer duvida pode ser clareada e o caminho se abre novamente para a livre criação... O mais importante é acreditar em você mesmo, em seu oficio, em seus companheiros e crer na reverberação do seu fazer artístico... 

Para pensar!

(...) proporcionando a suspensão de um tempo cotidiano e o mergulho em um tempo de arte ... isto é, um tempo do sensível, em que o espectador pode vislumbrar todos os detalhes das cenas com suas nuances e contradições, ao mesmo tempo que se vê refletido nas situações da obra e pode refletir sobre elas (...) 

Carla, Adriano, Beto, Arlete, Faeina, José, Rita, digam algo sobre esta citação................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................!

domingo, 4 de março de 2012

Inspiração...

Alguns pontos em comum com as nossas buscas / pesquisas...


A gênese da Vertigem

Conversa com Antonio Araújo, do Teatro da Vertigem
Conversa com Antonio Araujo, diretor do Teatro da Vertigem, sobre a trajetória do grupo e o livro A gênese da Vertigem – O processo de criação de O paraíso perdido.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Que efeito esse olhar em retrospecto para a gênese do Vertigem surtiu no seu entendimento do teatro que vocês fazem?
ANTONIO ARAÚJO: Esse trabalho do livro veio do meu mestrado, portanto, tem um pouco mais de dez anos. Então ele revela o olhar que eu lançava naquele momento para a trajetória aí feita – e tem umas sobreposições de tempo aí. Um dado curioso foi a escolha de O paraíso perdido, e não da trilogia inteira, como era projeto original, à medida em que eu estava recuperando os documentros de O paraíso, voltando para o caderno de direção e as anotações. Identifico em O paraíso, ainda que de uma forma pouco consciente, alguns dos elementos centrais que vão atravessar todos os outros trabalhos do grupo, o processo colaborativo e a própria questão do espaço, que vai ficando mais forte. São elementos que aparecem em decorrência do trabalho, não por uma deliberação. Não havia um conjunto de princípios previamente estabelecidos. A própria maneira como o grupo surge é curiosa. Começa como um grupo de estudos, por mais que, no fundo existisse um desejo de, quem sabe, fazer espetáculo. Mas, de fato, era um grupo de estudos da mecânica clássica aplicada ao movimento expressivo do ator. De fato, temos uma dinâmica de trabalho de grupo de estudos teórico-prático, com ênfase mais na prática. Nós nos encontrávamos toda manhã, líamos os textos do Galileu e do Newton, montamos uma programação de estudos, fazíamos na prática a pesquisa científica e, depois, íamos para uma pesquisa expressiva de como aquele conceito da mecânica clássica poderia ser explorado de uma forma específica. Alguns meses depois é que, diante do material que foi aparecendo, pensamos em juntar e fazer um espetáculo. Na origem do grupo, essa questão da pesquisa está colocada em primeiro lugar. Talvez, até por ser o primeiro, O paraísofosse artisticamente mais imaturo que os outros dois. Mas, pensando sobre esse olhar retrospectivo do que a tínhamos feito até então, pareceu que poderia ser rico estudar esse processo e identificar elementos-chave que, de uma certa forma, vão transbordar para os outros trabalhos.
LUCIANA ROMAGNOLLI: A Cecília Almeida Salles, no prefácio, o apresenta como um crítico genético de seu próprio trabalho. Como você vê o lugar da crítica no teatro brasileiro hoje, tanto por parte de seus pares encenadores e acadêmicos quanto na mídia?
ANTONIO ARAÚJO: A leitura dos textos da Cecília foi bastante inspiradora, e eu de fato colho elementos do que ela levanta sobre crítica genética para me ajudar no desenvolvimento do trabalho que iria gerar o mestrado. Ela até diz que sou um crítico genético, mas tenho receio dessa nomeação, me sinto muito mais, na verdade, um artista que lança mão de elementos da crítica genética para pensar o próprio trabalho. Essa questão da crítica genética, que é a ideia de uma crítica ligada ao processo, me parece muito pouco, senão nada, incorporada pela crítica teatral, que tem uma relação com o espetáculo como evento acabado, resultado pronto, salvo raríssimas exceções, e reforça a lógica produtivista e consumista. Tem crítica jornalística que trata esse produto com estrelas ou uma série de qualificadores, e isso me parece um problema, além de outros, a perda de espaço dentro do jornal e um caráter muito mais de resenha e de divulgação do que se debruçar, analisar e problematizar o trabalho. Eu não acho que as coisas estão perdidas, não sou completamente pessimista, porque vão aparecendo outras possibilidades. Na medida que se percebe a decadência da crítica jornalística, tem um site como o Questão de Crítica, que é um alento, um lugar de reflexão onde o exercício crítico se dá. Independentemente de eu, enquanto artista, concordar ou não com a avaliação feita, esse diálogo com a crítica é fundamental para o meu trabalho. Outro lugar onde isso também aparece, com o crescimento dos programas de pós-graduação, são as revistas ligadas à academia, onde evidentemente a crítica ganha aspecto mais ensaístico, de fôlego mais longo. Nesse sentido, não me parece que a crítica teatral morreu, ela está encontrando outras formas de ocorrer.
LUCIANA ROMAGNOLLI: No livro, você se pergunta se o ensaio, pela sua efemeridade, seria o espaço mais fiel da arte teatral. Como fica o público nesse processo?
ANTONIO ARAÚJO: Isso começou a aparecer mais fortemente no Apocalipse. O que fizemos foi abrir o processo de ensaio para o público, claro que não o tempo inteiro, mas criando instâncias de abertura do processo. No O livro de Jó, foi quando nos demos conta, depois de mais de um ano em sala de ensaio, que o final estava errado, a dois ou três dias da estreia, quando o público entrou nos ensaios abertos. O Luiz Alberto de Abreu veio no terceiro dia da temporada e teve a mesma percepção. Precisamos reescrever. É um absurdo , estávamos há um ano e meio trabalhando e não tínhamos percebido. Esse episódio do  nos levou, noApocalipse, a uma dinâmica da presença do público durante o processo. Na fase em que já tínhamos algum material, toda sexta fazíamos uma espécie de balanço da semana e apresentávamos todas as cenas desenvolvidas para pessoas que comentavam. Isso culminou num período de dois ou três meses de ensaio aberto, para quem quisesse. Não tinha debate ao fim do espetáculo para não forçar as pessoas nem criar constrangimento, deixávamos aberto para virem conversar conosco ou escrever.No BR3, passamos um questionário que as pessoas preenchiam se quisessem. Só que, como iam até o Tietê e depois as levávamos de volta até o Memorial da América Latina, tinham tempo, e quase 99% escrevia alguma coisa. Fala-se muito do triângulo ator, diretor e dramaturgo, mas percebo aí o público como outro vetor fundamental, que de fato interfere. Claro que eu fazia uma triagem, às vezes recebíamos questionários muito destrutivos ou propostas de em vez de fazer no rio, fazer num cemitério, o que seria outro espetáculo, mas, a maior parte das vezes, as sugestões e problematizações têm coisas muito interessantes. Vou contar um segredo: sou o primeiro a pegar os questionários, assim que acaba, e não durmo antes de ler todos e fazer uma tabulação do que é para cenografia ou música etc, no dia seguinte, passo para as áreas específicas. Nesse sentido, o público tem um papel criador. Não de receptor que cria a obra na cabeça dele à medida que asssite, como a ideia de obra aberta do Umberto Eco, estou falando de um aspecto criador mais concreto: ele faz com que o trabalho se modifique.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Qual o lugar da realidade no teatro do Vertigem?
ANTONIO ARAÚJO: Esse diálogo com o real e com a realidade é um elemento fundamental dos processos de criação dos trabalhos. Se eu penso em relação à questão do espaço, isso foi se intesificando ao longo da trajetória do Vertigem. No caso de O paraíso, quando escolhemos a igreja como espaço de apresentação, provocamos toda uma reflexão sobre o lugar do teatro dentro da cidade; no O livro de Jó, fomos durante o processo de criação fazer uma série de visitas a lugares da cidade que ajudariam na composição dos atores; no Apocalipse, usamos o mesmo procedimento de trabalho em determinados lugares da cidade, mas aí não só para os atores, mas também para levantar elementos para a dramaturgia. Quando chegamos ao BR3, o processo é o lugar. Não partimos de um tema, como Aids ou o fim do mundo, como nos anteriores, mas de três lugares muito concretos, Brasilândia, Brasília e Brasiléia, e a viagem por eles foi detonadora do processo de criação. A mesma coisa está acontecendo agora com o bairro do Bom Retiro. É o lugar que deflagra o trabalho. Essa conexão com o real é muito presente no processo de criação e também, evidentemente, aparace no espetáculo. Ao pegar um hospital de verdade, com maca de verdade e cheiro de éter, e construir ali dentro uma ficção… É o ficcional e o real em fricção. Um mito ou uma história tensionada dentro de um espaço, digamos, real. Claro que o teatro italiano é real também, mas é um lugar institucionalmente já esperado de algo ficcional. O hospital ou o presídio não, são espaços criados para outras funções, e o que vai justamente tensionar ou friccionar os sentidos daquele espaço com os sentidos ficcionais da obra.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Que vantagens você vê no descondicionamento do público numa relação com o espaço não-convencional? Além disso, e além de o site specific interferir na dramaturgia, seria também uma maneira de encaixar o teatro no cotidiano da cidade?
ANTONIO ARAÚJO: Já vi trabalhos de site specific muito ruins e de palco italiano que marcaram minha vida. Então, não acho que o site specific é melhor que o palco italiano. Agora, acho que talvez crie experiências distintas. Quando você vai a determinado lugar carregado de memórias e histórias – como entrar no presídio ou como quando fizemos Apocalipse no Dops, que havia sido usado para os presos políticos durante a ditadura – é impossível não se confrontar com elementos presentes. O espectador não está vendo algo longe, sentado em sua poltrona, mais como observador. Numa experiência como essa, você é assaltado pelo trabalho de todas as formas, tem que se movimentar e é atravessado por sons e cheiros, seus sentidos são mobilizados por aquele lugar. É um tipo de dinâmica que intensifica o caráter experiencial teatral. Além disso, para nós, faz muito sentido poder levar o teatro a outros lugares da cidade que não os institucionalmente já convencionados, causando uma interferência concreta na vida da cidade e das pessoas, revelando aspectos da cidade que elas não percebem ou para os quais estão anestesiadas. Quando levamos o BR3 ao Tietê, em São Paulo, que é um grande esgoto a céu aberto, estávamos, de certa forma, reativando um não-lugar e reincorporando para aquelas pessoas o rio da cidade delas. Isso provoca uma inversão de olhar da cidade. Muitos espectadores escreviam que é muito diferente ver a cidade de dentro do rio, olhar as marginais. E tem também um aspecto de “retorno do recalcado”, aquilo que talvez a cidade não queira ver, abafe, esconda, higienize, e trazemos à tona de novo. Recolocamos o problema em evidência.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Qual a relação, no processo do grupo, entre o depoimento pessoal dos atores, um campo individual e subjetivo, com dramaturgias de crítica social, um campo coletivo?
ANTONIO ARAÚJO: Existe a confusão que depoimento pessoal seria sinônimo de baú da memória. Há esse aspecto memorialístico sim, porém, acho que é mais do que isso no nosso trabalho. Ele é também um posicionamento crítico do ator frente a uma determinada questão, como se acredita ou não no fim do mundo. Tem um aspecto reflexivo e crítico. Agora, na medida em que se tem esses depoimentos individuais dentro do processo, eles vão se conflitar. E do choque vai justamente se materializando um depoimento coletivo do grupo. Por isso, me parece que há, o tempo inteiro, uma dinâmica individual e coletiva. Agora, como você mesmo aponta, à medida em que estamos na cidade, Brasilândia ou Bom Retiro, e o que move o trabalho é o que está acontecendo no bairro ou na região, já temos uma dimensão pública ou coletiva que se impõe e é o motor do processo. Se estamos no Bom Retiro fazendo pesquisa de campo, vamos encontrar com pessoas e conversar, e o encontro com determinado morador vai nos atravessar e repercutir no trabalho de criação. Aí volto para a pergunta anterior: à medida em que abrimos o ensaio para o público, temos também a dimensão de uma coletividade que vem interferir, problematizar, criticar e sugerir elementos para o grupo. São vários âmbitos de coletivo: o do Vertigem, o do bairro, o da cidade.
LUCIANA ROMAGNOLLI: No ano passado, a Mariana Lima deu uma entrevista à revista Bravo!, em que falava das situações-limite nas vivências com o Vertigem e de como a afetaram física e psicologicamente. Que tipo de entrega e comprometimento ético você espera de seus atores hoje e como se chega a isso?
ANTONIO ARAÚJO: O tipo de processo que fazemos tem um grau de mergulho. São processos longos e que acabam, de uma certa forma, provocando um aprofundamento em questões que, claro, se ensaiássemos um ou dois meses, não poderia acontecer. Outro aspecto diz respeito a esse depoimento pessoal, a não ter o ator executor, mas um ator propositor, criador, crítico, pensador, que se coloque dentro do trabalho. Isso, naturalmente, já sugere e solicita um outro posicionamento. Ao lidar com espaços não-convencionais, naturalmente há um elemento de risco envolvido. Risco físico mesmo e também psicológico. No BR3, a possibilidade de cair dentro do rio existe e faz parte do trabalho. Quando entramos no hospital, a atmosfera do lugar nos afeta e todos são atravessados por aquilo. No Dops, quando começamos era dificílimo pela atmosfera daquele lugar, ensaiávamos uma ou duas horas e nossa energia acabava – e costumamos fazer ensaios longos sem cansar. Todos esses elementos criam um estado de presença do ator que é outro, e isso aparece tanto no processo de criação como durante as apresentações: esse elemento do perigo, do risco. Tem um aspecto ligado à performance aí.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Você acompanha o desenvolvimento das carreiras da Mariana Lima e do Matheus Nachtergaele?
ANTONIO ARAÚJO: Não consegui ver os últimos trabalhos. A Mariana passou muito tempo com o grupo entre O livro de Jó e o Apocalipse. O Matheus ficou em O paraíso e . São dois atores que têm essa capacidade de entrega e de mergulho, não têm medo de arriscar e visitar lugares menos confortáveis para eles, zonas mais escuras, lugares que não conhecem. Mas esse é, de certa forma, um dado que aparece nos atores nos processos do Vertigem.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Os espetáculos do Vertigem são obras de longos processos, masBR3, por exemplo, teve poucas apresentações. Vocês conseguem mantê-los em repertório?
ANTONIO ARAÚJO: Há dois ou três anos apresentamos O livro de Jó no Chile. Os espetáculos podem ser refeitos e reapresentados, mesmo com os atores que saíram, tanto que nossa primeira opção é sempre chamar quem fez; se não pode, substituímos. Agora estamos artisticamente mais interessados no Bom Retiro, é o trabalho mais recente que está mobilizando nossos corações e mentes. O nosso motor para criar o , lá atrás, tinha a ver com a questão da Aids, diferente hoje, mas, no Chile, ocupamos um hospital público em Santiago, onde a qualidade do atendimento era precária, e o fato de levar o espetáculo para as dependências desse hospital, de certa forma, chamava a atenção para o problema da diferença de tratamento e de qualidade entre o hospital público e o privado. Sinto que os espetáculos vão criando outras dimensões à medida que continuamos apresentando e, quando viajamos, os recriamos para o novo espaço, incorporando elementos daquela cidade e daquele lugar.
LUCIANA ROMAGNOLLI: No momento, vocês estão envolvidos em um projeto de imersão no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Que questões esse site specific trouxe ao grupo?
ANTONIO ARAÚJO: Ainda estamos no meio do processo, começamos no fim de 2010, com algumas interrupções. Passamos três meses para o dramaturgo, Joca Terron, escrever a primeira versão do texto. Deixamos de lado a questão histórica do bairro, que estava muito presente no início – inclusive com personagens históricos que chegamos a improvisar. Esses elementos foram para o segundo plano. O que está acontecendo no Bom Retiro hoje, as tensões presentes, talvez estejam mais em evidência. São tensões de trabalho – não estou falando de violência, são tensões sutis entre as diferentes comunidades que moram lá, ligadas a abandono de determinados lugares do bairro em detrimento a projetos de embelezamento.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Por que escolheram criar no bairro?
ANTONIO ARAÚJO: A nossa relação com o Bom Retiro é antiga, o Apocalipse foi todo ensaiado lá por mais de um ano; e outro elemento é a presença desses fluxos migratórios vindos a São Paulo e ao Brasil.
LUCIANA ROMAGNOLLI: Você esteve recentemente fazendo uma residência artística na Bélgica, como foi?
ANTONIO ARAÚJO: Foi em janeiro, uma experiência muito bacana e curta. Trabalhamos durante duas semanas com arquitetos e urbanistas belgas, num processo de troca. A residência foi feita num lugar chamado Vrac /L’escaut, um escritório de arquitetura e urbanismo com diálogo com o teatro. Eles têm até um espaço de apresentação lá. E trabalham de forma colaborativa. Aí, queriam trocar, tanto com interesse por essa relação que temos entre teatro, arquitetura e cidade, quanto por esse modo colaborativo de trabalhar. Foi muito rico, um outro contexto cultural para nós. Acabamos fazendo várias performances em Bruxelas. Os arquitetos propuseram, por exemplo, que fizéssemos intervenções numa linha do bonde que atravessa a cidade de Norte a Sul.
LUCIANA ROMAGNOLLI: O Vertigem tem alguma perspectiva de se apresentar em Belo Horizonte?
ANTONIO ARAÚJO: O Marcelo Bones chegou a dar uma sondada, mas o problema de nos apresentarmos no FIT agora é que estamos à beira de estrear o próximo trabalho. Tomara que ele continue (como diretor artístico do festival) e possamos, quem sabe, na próxima edição trazer os dois trabalhos que não vieram a Belo Horizonte: BR3 e o do Bom Retiro. Nesse momento, a previsão de estreia é maio – que pode virar junho – e depois continuamos ensaiando. Queremos ficar um tempo em São Paulo, justamente para ouvir as pessoas…
Link com informações sobre o livro de Antonio Araújo A gênese da Vertigem – O processo de criação de O paraíso perdido http://www.editoraperspectiva.com.br/index.php?apg=cat&npr=962
Luciana Eastwood Romagnolli é jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, com especialização em Literatura Dramática e Teatro, e atua no jornal mineiro O Tempo.